domingo, 22 de maio de 2011

A tempestade da minha vida •

  Quando tudo começou, estava eu no meu quarto sem sequer imaginar o que iria acontecer naquela noite. Lembro-me que, de repente, comecei a ouvir leves e suaves gotas de chuva a bater na janela, mas não lhes prestei muita atenção. Continuei a escrever, mas decididamente estava sem inspiração para aquele capítulo, A chuva lenta começou a tornar-se mais forte na janela e eu sabia que naquela noite tinha de terminar o capítulo.
  Subitamente, o caderno que eu agarrava , caiu-me por entre os dedos, quando milhares de trovões rebentaram nos meus ouvidos. Medo, eu tinha medo, pois parecia que tinham vindo para me assombrar como um fantasma. Cada vez ficavam mais fortes, cada vez mais violentos, uns a seguir aos outros, ruidosos e frios. Decidi não abrir a janela, mas fui espreitar. Não se via nada, o ar tinha sido invadido por uma cor cinzenta deixada pela chuva, e as rajadas de vento contínuas pareciam querer falar, discutir ou ralhar. Estariam elas zangadas comigo? Foi então que ouvi um estrondo e olhei de novo lá para fora, mas não conseguia ver nada a não ser o céu em tons de cinza.
  Estava um ar gélido e já era tão tarde que decidi deitar-me e tentar dormir. Foi aí que a chuva acalmou, dando lugar a uma sucessão de relâmpagos e a uma melodia de violentos trovões. Da minha cama ouvia o vento, e na rua tudo parecia voar com ele, parecia zangado e ao mesmo tempo cruel, por levar tudo à frente sem piedade. Estava assustada, mas ganhei coragem para ir à janela mais uma vez, e percebi que estava algo escrito na estrada com as folhas das árvores e eu consegui ler "Tu Consegues, Tudo é Possível". De repente as folhas das árvores enrolaram-se com o vento e voaram para o céu, começou então a cair uma chuva de granizo, tão intensivamente, que fazia doer os ouvidos. Estava tão assustada, eu odiava tempestades e não conseguia perceber o porquê de toda aquela força repentina.
  Os assobios do vento tornaram-se mais fortes, e entravam-me pela cabeça, penetrando-me o estômago, o que me deixava com uma sensação de má-disposição, então comecei a chorar e gritei: "Parem! Eu vou tentar!". Subitamente toda aquela tempestade ardente parou, deixando apenas o sussurrar de uma leve brisa que eu parecia sentir, como se estivesse lá fora. Levantei-me do cão gelado e agarrei no caderno gasto, comecei a escrever, descrevi uma tempestade e só parei de escrever no outro dia de sol.

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